Apesar da intenção em valorizar a Segurança Pública, reajuste de Tarcísio é insuficiente para recompor salários da Polícia Civil, afirma Sindpesp
Para o Sindicato dos Delegados de SP, aceno ao setor no início da nova gestão é positivo, no entanto correção é insuficiente para tirar o estado dentre os que pior pagam os policiais no País; entidade também questiona percentuais diferenciados que privilegiam a Polícia Militar em detrimento da Polícia Civil
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) recebeu com ressalvas o anúncio do reajuste salarial para a Polícia Civil proposto por Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos). O projeto de lei que versa sobre o tema foi entregue à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) na manhã desta 3ª feira (2/5).
Para Jacqueline Valadares, presidente do Sindpesp, apesar de positivo o aceno do governador à Segurança Pública, a correção é insuficiente para tirar o estado do ranking de uma das piores remunerações do País.
“Entendemos que não é possível reverter 30 anos de descaso, ao qual a Polícia Civil foi submetida, em apenas quatro meses do novo governo. Dessa forma, consideramos que o anúncio de hoje é bem-vindo, uma vez que sinaliza uma retomada da valorização da categoria por parte do Estado. Por outro lado, havia uma expectativa muito grande em torno deste reajuste, que, nem de longe, é o que se esperava”, destaca a delegada.
Para o Sindpesp, a correção prevista por Tarcísio é insuficiente para uma efetiva recomposição salarial da categoria que representa (delegados) e da Polícia Civil de forma geral. Ao longo do governo de João Doria (na época, do PSDB), o acumulado em correção para a instituição foi de 25%. A nova gestão propõe para o cargo de delegado de polícia, por exemplo, uma média de 17,85%, segundo documento protocolado nesta manhã na Alesp.
São Paulo, líder de arrecadação de impostos no Brasil em 2022, com R$ 1,03 trilhão, ocupava a 24° posição no ranking dos salários de delegados entre as 27 unidades da federação, com piso de R$ 12.458,97 para o início de carreira. Agora, com o reajuste, passará a ocupar a 22ª posição:
“A porcentagem anunciada há pouco não vai tirar São Paulo, o estado mais rico da Nação, da vergonhosa colocação entre os que pagam os piores salários aos policiais civis no Brasil. Para se ter ideia, Mato Grosso, 14º em arrecadação no ano passado, com R$ 42,2 bilhões, é o que oferece o melhor vencimento do País a um delegado: R$ 25.407,95 – muito superior à remuneração paulista”, lamenta Jacqueline.
Sem diferenciação
O Sindpesp, conforme destaca sua presidente, também não concorda com a diferenciação no percentual de reajuste entre as Polícias Civil e Militar previsto no projeto do Governo de São Paulo e que, agora, será apreciado pelo Parlamento bandeirante. O ideal, reforça Jacqueline, é que o reajuste fosse “equânime e justo” entre as forças de segurança.
Ocorre que, comparando o aumento dos oficiais da Polícia Militar com o dos delegados da Polícia Civil, o primeiro grupo recebeu 4,7% a mais.
A delegada também lamenta o fato de o Sindpesp não ter sido convidado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública para discutir o reajuste, já que é o legítimo representante da carreira de delegado de Polícia:
“O Sindpesp enxerga com bons olhos que o secretário (de Segurança Pública) Guilherme Derrite e o governador Tarcísio (de Freitas) tenham aberto diálogo com o comando das Polícias Civil e Militar, mas espera que, em futuras negociações, haja lugar na mesa para a entidade. Afinal, a Diretoria foi eleita legitimamente pelos integrantes da carreira de delegado de Polícia para representá-los e conhece bem seus anseios. Além de não ter sido convidado para colaborar com o debate, o Sindpesp não teve acesso aos estudos e aos valores da recomposição remuneratória antes do seu envio ao governador”.
Sucateamento
Os baixos salários pagos para a Polícia Civil também colaboram, há décadas, com o sucateamento da estrutura disponibilizada para o trabalho dos policiais, segundo Jacqueline. Levantamento recente do Sindpesp revela que a instituição tem déficit de 38,5% em seus quadros:
“Ou seja, são 16 mil policiais a menos, incluindo delegados, investigadores e escrivães, entre outros cargos imprescindíveis para uma prestação de serviços efetiva para a população, que clama, dia a dia, por mais segurança. Com os baixos salários que são pagos hoje, infelizmente a Polícia Civil de São Paulo não consegue reter seus profissionais, o que acaba impactando negativamente no serviço prestado ao povo”, finaliza a delegada.