Escândalo do INSS: alertas ignorados e um esquema bilionário contra aposentados


Documentos reunidos nos últimos anos revelam que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foi alertado por diferentes órgãos de fiscalização sobre descontos abusivos aplicados em aposentadorias e pensões. Ao menos quatro notificações oficiais foram encaminhadas entre 2018 e 2025, mas, mesmo assim, a prática continuou.
O primeiro aviso partiu do Ministério Público Federal (MPF) em 2018, quando irregularidades já eram registradas na folha de pagamento de aposentados. O então superintendente do INSS em São Paulo foi formalmente comunicado sobre o problema, mas não adotou providências capazes de encerrar os abusos.
No ano seguinte, em 2019, novas denúncias chegaram ao Procon paulista. Empresas relataram que associações, em parceria com seguradoras, estavam realizando descontos indevidos nos benefícios de aposentados e pensionistas. A reclamação foi encaminhada diretamente ao INSS.
O encontro para tratar do caso contou com a presença do presidente do instituto à época e do então ministro da Justiça, Sergio Moro. Houve promessa de exclusão imediata das entidades envolvidas. No entanto, passados os meses, nenhuma medida prática foi cumprida, e os descontos seguiram afetando milhares de segurados.
A dimensão do problema ganhou repercussão nacional somente em dezembro de 2023, quando reportagens revelaram que as arrecadações dessas associações haviam disparado. Em apenas um ano, os valores ultrapassaram a marca de R$ 2 bilhões, resultado de filiações fraudulentas e mensalidades cobradas sem autorização.
Essas matérias também mostraram que, enquanto o dinheiro entrava nos cofres de entidades suspeitas, aposentados sofriam para recuperar valores retirados ilegalmente de seus benefícios. Milhares de processos judiciais foram abertos contra as associações, mas a lentidão da Justiça impediu soluções rápidas.
A pressão da imprensa e das denúncias levou a Polícia Federal a instaurar inquérito e a Controladoria-Geral da União (CGU) a aprofundar as apurações. Ambas confirmaram a gravidade do esquema e a conivência do sistema ao não agir diante de tantos alertas recebidos.
O desdobramento das investigações foi a deflagração da Operação Sem Desconto, em 23 de junho de 2025. A ação resultou em buscas, apreensões e no afastamento imediato do presidente do INSS. Poucos dias depois, o então ministro da Previdência também foi demitido do cargo.
O caso expôs como falhas de fiscalização, promessas não cumpridas e a omissão das autoridades contribuíram para a manutenção de um esquema que lesou diretamente a população idosa, uma das mais frágeis do país. Durante sete anos, aposentados foram vítimas de práticas abusivas que poderiam ter sido interrompidas já no primeiro alerta.
Agora, o desafio é garantir que novas medidas sejam aplicadas para proteger os beneficiários da Previdência Social. O episódio serve como alerta sobre a importância de fiscalizar, responsabilizar e, sobretudo, impedir que a negligência institucional continue abrindo espaço para escândalos que destroem a confiança do cidadão.
✍️ Jornalista Robertão Chapa Quente, o jornalista policial número um do Circuito das Águas Paulista — do Jornal Digital Regional, Jornal Circuito Paulista, Jornal Digital do Brasil, TV Digital e RMC TV.