Setor de inteligência da PM identificou postos de combustíveis usados pelo crime organizado

Setor de inteligência da PM identificou postos de combustíveis usados pelo crime organizado
Operação Carbono Oculto deflagrada hoje foi a maior do Brasil contra esse esquema ilícito e envolveu forças de segurança estaduais e federais

Quinta-feira, 28/08/2025 14:20

Por Isabelle Amaral

Meses atrás, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) solicitou às equipes de campo do Centro de Inteligência da Polícia Militar do estado para realizar um levantamento de possíveis postos de combustíveis que estariam sendo usados pelo crime organizado. 

O material colhido compôs o procedimento investigatório da promotoria. Nesta quinta-feira (28), as forças de segurança estaduais e federais deflagraram a maior operação contra adulteração de combustíveis do Brasil, que atingiu diretamente o ecossistema financeiro de uma facção criminosa.

Mais de 1,4 mil agentes das Polícias Militar e Civil, Polícia Federal, Ministério Público estadual e federal, Receita Federal, Secretaria da Fazenda e Planejamento, entre outros órgãos, participaram da ação. As ordens judiciais foram cumpridas em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina. No estado paulista, as buscas foram realizadas na capital — a maioria na região da avenida Faria Lima, centro financeiro da cidade — e, no interior, as buscas aconteceram nas regiões de Campinas, Paulínia, e em quatro cidades na área de São José do Rio Preto.

“A partir disso, o MP-SP identificou a necessidade de ação colaborativa de diversos órgãos e chamou todas as instituições mencionadas para que cada uma atuasse em ações especificas”, frisou o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. “A partir daí foi construída e compreendida toda uma logística criminosa que acabou fechando um esquema que havia uma suspeita muito grande de existir, tendo em vista a atuação do crime organizado no nosso país.”

As práticas dessa quadrilha afetavam diretamente a população, não apenas no quesito da adulteração de combustível, mas também de saúde, uma vez que os envolvidos faziam importação irregular do metanol, solvente químico altamente inflamável e tóxico usado para adulterar combustíveis. As investigações identificaram que os postos de combustíveis envolvidos no esquema usavam altos percentuais da substância, além do permitido pelas agências reguladoras.

“Só por parte da Polícia Militar, nós empregamos 766 policiais de Batalhões de Choque, além mais uma parte de agentes do Departamento de Operações Estratégicas (Dope) da Polícia Civil. No estado paulista foram 156 mandados de busca, fora os de outros estados”, detalhou o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante coletiva de imprensa hoje.

Ainda segundo o chefe da pasta, a “operação foi pura de inteligência”, sem o objetivo de realizar prisões neste primeiro momento, apenas de colher ainda mais materialidade para ter provas contra os investigados.

Conforme os investigadores, o esquema usava o Porto de Paranaguá, no Paraná, para a importação de metanol. Os carregamentos tinham como destino a indústria química, parte dessas empresas era de fechada ou de atuação paralela para desvio do produto. O destino real, segundo a promotoria, acabava sendo centenas de postos de combustíveis onde a substância era acrescentada ao combustível. Todo dinheiro movimentado com o crime era transferido para empresas de serviços financeiros digitais.

Computadores, celulares e documentos já foram apreendidos ao longo das ações, conforme o MP. No estado de São Paulo são mais de 3 mil documentos apreendidos, centenas de computadores e discos rígidos que darão suporte às investigações. 

“Descobrimos que essa facção usava de brechas legais e normativas, especialmente com uso de fintechs e fundos de investimentos, para lavar dinheiro e blindar o patrimônio ilícito”, acrescentou o procurador-geral de Justiça de São Paulo. 

O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (Cira/SP) deve entrar com um pedido na Justiça para bloquear bens suficientes para recuperar o tributo sonegado. A estimativa do valor ultrapassa os R$ 7 bilhões. 

As ações de inteligência seguem em andamento. Os próximos passos incluem a responsabilização dos envolvidos, bem como possíveis desdobramentos em relação às informações obtidas.

Compartilhe!

Robertão Chapa Quente

• Diretor do Jornal Digital do Brasil • TV DIGITAL • Apresentador do Programa Chapa Quente

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.